Há 3 anos atrás estava arrumando a minha mudança. Depois de oito anos no Rio de Janeiro estava voltando para a minha terrinha. Porto Alegre. No meio daquele movimento todo, do entra e sai de gente, na desarrumação das coisas, nas gavetas escancaradas, toca o telefone... Era a minha prima querida, com a voz sofrida, me avisando que o nosso primo morreu. Tinha 53 anos. Teve um câncer arrebatador e se foi... Meu coração ficou aos pedaços. Senti uma dor absurda. Chorei muito. E os homens da mudança me olhavam em silêncio. Enquanto arrumava minhas coisas em lágrimas, eles passavam por mim em silêncio. Um silêncio respeitoso, compreensivo e até alentador. Guardei as minhas coisas com uma sensação de vazio. E, hoje, depois de alguns anos, fui arrebatada por uma enorme saudade. Estou aqui, ouvindo Pink Floyd e pensando nele. Se chamava Paulo César. Era o filho mais velho da irmã do meu pai, minha tia. E era meu amigo. Meu grande e querido amigo. Mais velho que eu, me ensinou muitas coisas. Me ensinou a gostar de rock. Gravava fitas cassete com as músicas mais variadas. E eu amava. Saía comigo. Me levava a shows. Íamos caminhando, com os amigos dele e eu... Eu me sentia maravilhosamente bem.Valorizada. Amada. Era bem mais nova e saía com os "guris" mais velhos. Meu primo me colocava na conversa e me ouviam, achavam graça e diziam que eu era "interessante".Me sentia especial. Meu primo me apresentava o mundo. Bebia e não me deixava beber. Conversava em tom de conselhos. Se sentia meu irmão mais velho e protetor. Neste momento está tocando o cd "Dark Side of the Moon", a música é "Us and Them". Ouvi, pela primeira vez, com ele, um vinil novo que estava protegido com um plástico. Ele me chamou para mostrar no momento em que comprou. Fiquei encantada. Estou revivendo todas as lembranças com saudade e amor. O coração está apertado. Mas me sinto uma felizarda. Tive este primo amado, que amei intensamente. Admirei e respeitei. Hoje ele faz parte de mim. Está encrostado na minha alma. E este é um sentimento pleno. Carregamos dentro de nós todos aqueles que amamos. Eles nos compõem. E, na verdade, enquanto estiverem vivos em nossa memória estarão vivos de fato. Como é bom ter quem amar...
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