terça-feira, 29 de novembro de 2011

Família

A vida oferece mil coisas... Todos os dias, se olharmos com atenção, descobriremos mil possibilidades de coisas novas, especiais e que agregam, na alma, alegria. Muita alegria. A família é uma destas coisas. Desde o pequeno núcleo, que somos marido, mulher e filhas... Até os avós, irmãos, cunhadas e cunhados, tios e tias, primos e primas... Todos! A família inteira. Há altos e baixos. Momentos intensos de alegria e outros de chateação. Mas é família. E família é muito importante. Importantíssima.
A vida está me oferecendo, nestes últimos dias, meu cunhado Filipe e minha cunhada Bianca, por aqui, em terras brasileiras. Estão vivendo nos EUA e, neste momento, estão nos visitando. O interessante é que eu sabia que sentia saudade deles. Sabia que gostaria que eles estivessem por aqui compartilhando momentos especiais. Mas, quando os reencontrei, depois de quase 4 anos, percebi que sentia muito mais saudade. Percebi que fiquei infinitamente mais feliz com o longo e caloroso abraço e, que, nestes dias que estarão por aqui quero ficar por perto. Quero aproveitar cada minutinho e usufruir da especial companhia deles. O bom da vida é saber quando estamos vivendo a alegria com intensidade. É saber quando estamos rodeados de quem amamos e, mais ainda, saber que somos felizes nos pequenos e breves momentos que temos, todos os dias. E... Como é bom não ser sozinha...

domingo, 20 de novembro de 2011

Fazer um diário...

Faz tanto tempo que escrevo diariamente. Escrevo ali na minha agenda mesmo. No papel com a caneta que estiver mais próxima. Às vezes anoto o que gostaria de escrever no blog que, na verdade, começou também como um diário. Um diário desafiador. Cada dia seria um novo dia, com novas coisas a serem vividas e tal. Mas, às vezes a vida é tão intensa que não dá tempo para parar e escrever sobre ela. Não dá tempo porque o tempo, precioso, precisa ser usado para vivê-la com aquela intensidade urgente. Urgente para quem ama a vida.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coisas que o Caio Fernando Abreu escreveu antes de mim...

(...) Talvez eu tenha medo demais, e isto chama-se covardia. Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e temores, e o tempo vai passando. Coverdia é uma palavra feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara. Descobri que não me busco ou, se me busco, é sem vontade nenhuma de me achar, mudando de caminho cada vez que percebo uma luz. Fuga, o tempo todo fuga, intercalada por períodos de reconhecimento. Suavizada, às vezes, mas sempre fuga.

As Coisas que passam!

A Feira do Livro de Porto Alegre é um evento anual, esperado e desejado. Mal começa e a sensação de que acabará deixa um vazio até o próximo ano... Sempre que chega o momento da Feira defino tudo que quero fazer. E nunca faço. Sempre acontece alguma coisa e a Feira passa voando por mim. Ou eu por ela. As caminhadas lentas pelas barracas? Nunca são possíveis. Tem tanta gente que a chegada vira uma maratona. Sentar na praça e apreciar o novo livro comprado? Depende do dia da semana. Se eu tiver a mesma ideia da maioria das pessoas - o que sempre acontece - não será possível. Sem bancos disponíveis. E as palestras? Perco, quase sempre. Quantos dias preciso para viver a Feira com intensidade? No mínimo três. Com tempo de sobra e, de preferência, com uma companhia que queira usufruir dos prazeres que a Feira oferece. Senão... Este ano a Feira aconteceu junto com a Bienal, que já estava em "cartaz" e eu já tinha visitado. O que também não foi suficiente. Porque a Bienal requer muito tempo. Muitas caminhadas, subidas e descidas, sapato apropriado e muito tempo. Mais uma vez não vi tudo. Achei que tinha visto mas, sempre aparece uma pessoa que te pergunta: Ah! Gostou da tal exposição? Não! Não lembro. Será que vi ou esqueci? O que pode ser pior?
Mas as coisas passam. A cidade vai oferecendo as exposições, mostras e Feiras. Algumas consigo ver, outras vou deixando para depois e, claro, o depois nunca chega. Só depois...
Nada como a ausência que a Feira do livro deixa em mim. É uma coisa absurda. É quase um luto. Será que vi todos os balaios? E os jacarandás? Apreciei com todo respeito que merecem? Será que no próximo ano vou escolher dias menos movimentados? E se a Feira estiver com pouco movimento, vou achar bom? Enquanto corro pelas ruas do centro da cidade, me arrependo de não ter o tempo que queria para curtir a Feira.
Mas, as surpresas sempre acontecem quando o coração está atento para as coisas boas. Neste ano a arquitetura do centro da cidade estava especialmente mais bonita. Percebi com mais atenção, os detalhes das portas, das janelas, as cores dos prédios, os vidros e as restaurações. E, como o pôr do sol é sempre um espetáculo especial, pude viver o pôr do sol refletindo todas nuances da cidade. Todos os tons. Toda a beleza. Parei e fiquei esperando aquela magia acontecer. As paredes foram mudando de cor. E, um certo silêncio reverenciava aquele momento. A Feira do Livro acontecendo, a Bienal acontecendo e, a cidade mudando de cor. As sacolas que carregava, cheias de livros ficaram leves diante de tudo o que ia se transformando ao nosso olhar encantado. As coisas passam...

Mais uma Vez!

Isto aqui já não me serve.
Não quero mais;
Esta intensidade das águas,
Das mágoas, das dores.

Isto aqui já me cansou.
Não sonho mais.
Espero e espero...
E as coisas já não bastam.

Quero dormir no calor do sol.
E, depois, voltar ao útero para
Mais uma vez, nascer.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

As Estações...

Terminei de ler "Limite Branco" do Caio Fernando Abreu. Adorei o livro. Mais ainda pelo fato do escritor ter 19 anos... 19 anos? Pois é! Ele escreveu este livro quando tinha apenas 19 anos. Conseguiu, com tão pouca idade escrever de maneira intensa. O livro é cheio de indagações. E totalmente atemporal.
Em uma parte do livro, escreve: "O inverno está chegando. Estranho, o inverno sempre me deixa mais profundo. Me volto para dentro de mim mesmo, tenho a impressão exata de que me pareço com um dos plátanos da praça aí de baixo: hirto, seco, mas guardando alguma coisa por dentro." Também me sinto assim. Me sinto intensa no inverno, como se o recolhimento fosse um olhar para a alma. No aconchego das cobertas, na necessidade de me aquecer, busco mais a minha essência. Adoro escrever em dias de frio.
Só que, escolho sempre os intermediários. Amo a primavera e o outono. As estações que anunciam os extremos. A primavera me deixa mais sensível. Fico encantada com o canto dos pássaros, com as cores do céu e com a capacidade do vento de trazer aromas maravilhosos. Fico contemplativa. Olho mais o outro. Olho mais a natureza e durmo sempre com uma sensação de poesia no ar. Olhar pela janela tem um significado especial nos dias de primavera.
O outono é especial pela beleza. A primavera deixa Porto Alegre colorida, linda e cheia de perfumes... Mas o outono... A cidade fica dourada. Tem um véu que filtra a luz do sol e deixa tudo como um quadro impressionista. Sou apaixonada por plátanos. E no outono eles dão um show à parte. Vão se transformando, mudando de cor... O verde vai ficando amarelinho, secando e secando até dourar no chão. As árvores vão ficando douradas e de repente seus galhos estão vazios. Lindamente vazios. E o chão oferece um tapete dourado de sons perfeitos. Quem nunca pisou em folhas de plátano não pode imaginar a beleza do som. É a música do outono. Sinto uma necessidade imensa de passar pelas águas do Guaíba. As águas ficam espelhadas e refletem de alguma maneira o dourado da estação. É um momento especial para mim, porque não escrevo nem contemplo. Simplesmente vivo o outono. Minha alma é outonal, com tudo o que isto pode implicar. E, desde já, fico esperando que passe o verão com seu céu intenso, cheio de luz e calor e, chegue o descanso. Descanso da paisagem. Descanso da minha alma.

Um pouquinho de Caio Fernando Abreu...

E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.
                                       Limite Branco/ pág.89

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Há muito tempo atrás...

Quando eu era pequena, muito pequena e menina, tinha um encantamento por mãos. A minha bisavó tinha as mãos mais lindas do mundo. Eram alvas com veias azuis pulsando de vida e alegria. Não havia cansaço na velhice dela. Havia beleza na voz, nos cabelos presos e nas mãos. Sentava ao lado dela e brincava, acariciava as mãos e dizia que eram minhas minhoquinhas. Ela sorria e me abraçava. Eu ali, tão pequeninha e cheia de juventude e, ela tão pequeninha e cheia de vida. Aquela vida do tempo vivido.
Hoje, encaro outras mãos. Mãos mais jovens do que as minhas. Coloquei as mãos das minhas filhas dentro das minhas e, agora elas que acolhem a minha mão, tão menor do que a delas. A minha mão está ficando marcada. Está caminhando para o encontro com a mão da minha bisavó. Vou ter minhoquinhas e, oxalá, alguém para massageá-las e amá-las.
O tempo passa pelo corpo inteiro, mas a marca das mãos trazem o tempo de uma maneira diferente. É um mapeamento do que foi vivido. Os calos, os dedos marcados, as veias que saltam... Parece que, através delas, a história será contada. As digitais, as linhas da vida...
Há muito tempo atrás as minhas mãos eram pequenas e nem sabiam o que estava por vir. Hoje, marcadas de vida, de tempo, continuam sem saber o que virá.
E eu sigo encantada com as mãos...

Um pouco do Mario Quintana...

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas cotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão píntando!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A Morte!

A morte... O meu querido poeta, Mario Quintana, tinha o dom de brincar com as palavras. Fazia graça e poesia e, claro, falava sobre a morte. Dizia: "A morte não melhora ninguém". Ou: "Quando morremos acontece com as nossas esperanças o mesmo que com esse brinquedo de estátuas, em que todos se imobilizam de súbito, cada qual na posição do momento. Mas as esperanças têm menos paciência. E vão imediatamente continuar, no coração de outros, o seu velho sonho interrompido"... Ou ainda, descobri em seus escritos: "No dia em que estiveres muito cheio de incomodações, imagina que morreste anteontem... Confessa: tudo aquilo teria tanta importância?"
Pois tantos poetas, escritores, filósofos, psiquiatras e outros entendidos passam escrevendo e pensando a morte. Tentando dar conta do que ela representa. Irving Yalom coloca em todos seus livros, a morte como o centro de tudo que rege as nossas vidas. Nos preocupamos demasiadamente com a única certeza que se apresenta para cada um de nós, desde o nosso nascimento. Aprendemos desde pequenos a perder coisas, perder afetos, perder pessoas e perder as próprias coisas que nos compõem. Os sonhos, a esperança... Mas não lidamos bem com a morte. Há quem acredite que a morte não é um fim. Outros tem outras crenças. Mas, por aqui, na nossa sociedade, a morte vem acompanhada de rituais profundamente tristes. Colocamos, na maioria das vezes, uma pessoa em uma caixa e a enterramos. Fim.
Estou lendo "Limite Branco" de Caio Fernando Abreu e, em um determinado momento, a morte aparece. Maurício, personagem do livro, demonstra toda sua dor pela perda. Enquanto uma moça estava deitada em um caixão, coberta de flores, e as pessoas choravam alto, em volta, ele encolhido em uma poltrona, coberto e protegido do frio, pensa: Quem me alimentará? Cuidará dos meus ferimentos e dores? Quem me servirá o leite quente ou me contará histórias? E, de repente, o livro esclareceu para mim uma coisa que até então não havia percebido: a morte é um desaforo. Um desaforo para quem fica. Afinal, neste mundo tão cheio de "eus", dores e preocupações pessoais, como alguém pode ousar morrer? E como "eu" fico? É uma ofensa pessoal. E, na maioria da vezes lidamos como uma coisa pessoal. "Eu" perdi.
Enquanto velamos um amigo, um parente ou um amor, a pergunta recorrente é: E agora? Como vai ser daqui para frente sem esta pessoa? E eu? Será que sei viver a minha vida? Será que estou cuidando da minha saúde? Será que estou rodeada de quem me ama? Eu? Eu! E o medo da morte se apresentou para mim, como a coisa mais egocêntrica possível. O outro se foi e eu sigo me preocupando em como ficarei? E o outro? A vida do outro? Choramos a morte e não celebramos a vida. Quem morreu e uniu um tanto de gente em volta, viveu. E a vida como foi? E o que é a morte afinal?
As coisas permanecem inabaláveis. As ruas seguem iguais. Tem os mesmos nomes. O clima não muda com a partida das pessoas. Os carros seguem seu caminho. As crianças seguem brincando. E os pássaros cantam, as pessoas riem, trabalham, amam, se apaixonam, se decepcionam... Então lembrei, neste sábado, depois de enterrar um amigo querido do tempo de adolescência. (Sabe aquelas pessoas que fazem parte intensamente da vida da gente em uma determinada época? Depois a gente vai perdendo estas pessoas pela vida e, com sorte, algumas conseguimos reencontrar). Pois bem, este amigo que perdi era uma destas pessoas que fazem parte da gente, em um determinado momento. Morto. Acabado. Enterrado. Será? Este amigo, em especial, era super espiritualizado, tinha suas crenças... E teve na sua despedida uma porção de pessoas consternadas, emocionadas, dando adeus. E uma energia especial reuniu uma porção de pessoas afastadas pelo tempo e afazeres. Redescobrimos, através dele, uma montanha de afeto e lembranças, soterradas pela nossa falta de tempo, de disponibilidade para o que realmente importa. Lembrei que a vida só vale a pena ser vivida quando compartilhada com amigos. Esta é uma crença. A minha crença. Compartilhar os momentos de alegria, sucesso, dor, tristeza, descoberta e todas as coisinhas que nos fazem sair da cama, só vale quando está previamente aquecido pelo afeto, atenção e amor dos amigos. E, em amigos incluo pai, mãe, irmãos, filhos, sobrinhos e os que escolhemos. Os amigos eleitos. Lembrei que a morte do significado da vida é possivelmente a morte real.
Já li sobre a morte, me preocupei com ela. Já perdi pessoas especiais e importantes. Sinto saudade. Senti a dor e o vazio da perda. E, acredito, que aprendi com cada uma destas pessoas em vida e com suas mortes. A morte nos traz ensinamentos. Nos faz refletir. E coloco aqui, para vocês que estão lendo estas palavras, um ensinamento Budista, que acredito e compartilho: Não nascemos, nem morremos, apenas continuamos.