quinta-feira, 23 de junho de 2011

Jardim!

Passei a maior parte da minha vida dentro de apartamentos. Só era verdadeiramente livre, em pátios espaçosos, quando visitava as minhas avós. Uma morava na mesma cidade, era mãe do meu pai e se chamava Almery. Brincava com meus primos em seus extensos pátios. A outra morava no interior do Estado, era mãe da minha mãe e se chamava Corina, como eu. Tínhamos muitas coisas em comum além do nome. Ela era a minha pessoa especial. Me conhecia mais do que eu mesma. Vivia em uma cidade pequena e cheia de charme chamada Jaguari. Eu visitava a minha vó com muita frequencia. Passei as férias da minha infância tomando banho de rio e passeando pela pequena cidade cheia de rostos afetuosos e jardins floridos. Andava de trem e só isto já era pura magia - viagem de trem para a casa da minha avó. Amava a casa e o jardim da minha avó. Havia flores variadas de diferentes e maravilhosos aromas. Brincava por ali em território livre. Era princesa, guerreira, dona de casa e tantas outras personagens que encarnava entre aquelas flores. E, ao longo da minha vida, venho carregando memórias perfumadas e encantadas daquele jardim imenso que, na verdade, só muito tempo depois fui descobrir que não era tão imenso assim. Era um espaço na lateral da casa que era de estilo colonial português. E as flores ficavam muito próximas do quarto principal onde eu dormia, no verão, embalada pelas histórias que me ninavam, vento e perfume. Esta lembrança é muito nítida até hoje. Posso ouvir o silêncio da noite de céu estrelado de Jaguari. Sinto uma saudade imensa da minha avó. Hoje, depois de muitos anos e diferentes moradas, vivo em uma casa que possui um maravilhoso jardim. Tenho construído ele, aos poucos e com muita paciência. Compro as minhas flores na Garten Meyer, aqui pertinho de casa e, em uma das minhas muitas visitas por  lá, ouvi a maravilhosa frase: "criar um jardim é um exercício de paciência e amor." É verdade! Aqui já existia um pé de extremosa que estava muito caidinho. Tinha fungos e galhos muito fraquinhos. Limpamos, cuidamos e ela está linda e maravilhosa. Dá flores no verão e fico varrendo o pátio cheia de alegria, juntando as pequenas flores rosadas. Plantei um pé de limão, pitanga e a minha favorita a Acácia Mimosa. Era a árvore que a minha avó mais gostava. Chamo a Acácia de Cora e, neste exato momento ela está repleta de flores amarelas e extremamente cheirosas. A árvore tem o apelido da minha avó e é um pedacinho da minha infância plantada no meu pátio. É um pedacinho da minha avó, uma maneira de fazê-la presente para sempre. Tenho jasmim, buganvile, gerânio, onze horas e folhagens variadas. Mas é a Cora, de forma majestosa, que faz do meu jardim um lugar especial e atemporal. Hoje, a vida me ofereceu o corte de grama, a limpeza das plantas e a alegria infinita de criar um espaço lindo e cheio de magia. A magia de voltar a ser pequena, de lembrar das coisas que valem a pena e carregar o amor de forma tão intensa que meu corpo fica repleto de borboletas internas em vôo constante, enquanto lembro o que me faz feliz.

Um comentário:

  1. Compartilhei contigo todo o dia de hoje. O bom do jardim é que além de matar a saudade do passado, permite compartilhar coisas muito especiais com quem a gente ama no presente! Demos boas risadas cortando a grama hoje!!! E, nessa, vamos guardando mais e mais memórias boas para os jardins futuros!!!





    Te amo, mãe.

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