segunda-feira, 26 de março de 2012

Viver em Porto Alegre...

Viver em Porto Alegre... Há quem diga que é uma província. Dizem que tem mentalidade de cidade pequena. Reclamam dos horários dos bares e restaurantes. Reclamam do número de salas de cinema... Reclamam. E amam. Porque a grande maioria das pessoas amam Porto Alegre. Quem nasceu aqui. Quem foi acolhido pela cidade. Quem, como o querido Mario Quintana, desvendou a alma da cidade: "Cidade do meu andar, desde já tão longo andar e talvez do meu repouso." Quem entende a razão das lojas de bairro fecharem ao meio dia. Quem entende os horários dos bares e restaurantes e, principalmente, quem se dá o direito de descobrir em cada esquina, cada canto, cada pedaço desta terra, um lugar especial. Uma árvore. Uma casa. Um jardim. Um prédio pretensioso, outro sem pretensão alguma. E as ruas... Cresci no Menino Deus. Desvendei as ruas do bairro com a minha Caloi vermelha. A Botafogo, Getúlio Vargas, Ganzo, Bastian... Estudei na Duque de Caxias e conheci o centro da cidade. Brinquei na Praça da Matriz. Depois descobri outros lugares. Fui morar na Tristeza e arrebatada por uma propaganda que dizia: "Venha ser feliz na Tristeza!". E fui. Morei na Landell de Moura, caminhei pela Mario Totta, Wenceslau Escobar, Armando Barbedo e fui amando o Guaíba. Já amava na minha infância, quando me banhava em suas águas, em Belém Novo. O lago Guaíba era RIO e, limpo. Agora dizem que é lago e que suas águas são poluídas... São! O Guaíba é impróprio para banho, mas dá um banho de beleza. Suas águas brincam de mudar o humor da cidade. Tem dias calmos, de águas esverdeadas ou prateadas. Tem dias de ondas marrons. Mal humorado com o vento... E lindo. Sempre lindo! Espera o dia todo o momento do por do sol. E eu fico por aqui, esperando as tonalidades do céu, imaginando como será o do dia seguinte. Sim, porque cada dia o sol dá um show. E, quando o sol está escondido, camuflado, desaparecido, o entardecer dá um jeito de ficar bonito, mesmo nos seus tons de cinza. E Porto Alegre adormece. Amanhece. E eu me sinto completa por aqui. Moro na rua Pasteur e descubro outros cantos da cidade, outras ruas pequenas sem saída. Novos trajetos de caminhadas. Perto do Guaíba. As águas dele me regem. Quando vivi fora da minha cidade estava em estado de exílio. Me sentia uma estrangeira, reconhecida pelo sotaque e, talvez, pela ausência de brilho no olhar. Porque a saudade ofusca os olhos. E nos ausenta. Ficava um tanto perdida, sem referência, longe das águas do Guaíba, longe do sotaque e muito longe dos cheiros floridos desta terra. Aqui tem flores o ano todo. As árvores dão as cores às estações. E os perfumes se espalham pelo ar. Viver em Porto Alegre é um pouco disto. Um pouco do perfume de flor, um pouco do vento minuano, um pouco da cantoria das nossas vozes. Cantamos mais do que falamos. Nosso sotaque é lindamente musicado. Tomamos chimarrão pelas ruas. Adoramos o nosso time de futebol. Temos a bandeira do estado em algum lugar da nossa casa. Em forma de adesivo, em um caderno ou em pano, exposta ou guardada em algum móvel. Viver em Porto alegre é passear no Brique da Redenção. É andar de lotação. É achar o Mercado Público enorme e jurar que por lá se encontra de tudo... Amo esta cidade. E queria ser só um pouquinho do Quintana para poder colocar em palavras todo o esplendor que ela possui. Guardo e respeito as minhas limitações - e declaro, simplesmente, meu amor incondicional pela minha terra natal - onde estou, aqui ou bem longe, carrego esta cidade cravada na alma.
Feliz aniversário, minha querida cidade!
E que eu viva em ti por muitos e muitos anos.

Um comentário:

  1. linda cronica de vida e cidade!!!!Afirmação radical do local de cada dia em quase sentimento de polis grega,rs. O fato é que somos quem somos em função do lugar em que existimos ou nos inventamos concretamente em existência...

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