quinta-feira, 3 de maio de 2012

Saudade do Silêncio!

As pessoas sempre me perguntam sobre a minha vida no Rio. Nunca entenderam porque foi tão complicado viver aqui. Não compreendem como pode ser difícil viver em uma cidade tão linda. E é verdade. O Rio de Janeiro tem uma beleza indescritível. É uma cidade verdadeiramente exuberante. Sempre disse, a todos que me indagaram, que as dificuldades que senti aqui foram em função do abandono do poder público, da insegurança, dos medos constantes da vida cotidiana. Vivi aqui em uma época onde as contradições eram mais evidentes do que hoje. Foram dias bem mais complicados. E era isto. Estava dada a minha explicação. Hoje, voltando para cá com certa frequência, vejo que não era só isto. Existe uma coisa perturbadora por aqui. A falta do silêncio. O Rio é uma cidade estridente, que pulsa em sons constantes, que berra em cada esquina. Por aqui é impossível ouvir o barulho do mar. Mesmo na Pedra do Arpoador alguém acredita que a música de sua preferência pode ser interessante para todas as pessoas que estão a sua volta. A gente grita em um bar para ser ouvida. A música se mistura com as falas, que se mistura com os gritos, que se misturam com as buzinas... Como o carioca buzina! Sempre. O tempo todo. Eu, estranhamente, a-do-ro a madrugada. O silêncio da madrugada. O som do próprio corpo. O som do silêncio. Aqui, a madrugada me brinda com helicópteros, sirenes, buzinas(mais uma vez), e uma infinidade de sons... Talvez esteja aí a razão para a irritação, desconforto e tantos estados estranhos em que as pessoas se encontram, apesar das belezas naturais... Apesar da exuberância desta cidade... A falta do silêncio não dá trégua para a alma. Estamos, por aqui, sempre em estado de alerta. Acordo cansada. Nem lembro dos meus sonhos. Olho, da minha janela, a vista perfeita da enseada de Botafogo. O Pão de Açúcar, o mar, os barquinhos, o calçadão, o céu azul... E a janela está fechada, sempre fechada. Se abro, por alguns instantes, é como estar do meio de uma obra, no meio de uma demolição constante. Nem o dia com ares bucólicos sobrevivem aos sons. A demolição da paz interior, provavelmente, é a causa de tanta agitação pelas ruas. Preciso do silêncio. Prezo o silêncio. E, estou sentindo uma saudade absurda do som do meu corpo, dos pássaros, do som do vento, do som da ausência de som... Saudade do silêncio!

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